Princípios nutricionais na criação do cavalo atleta

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O maior objetivo do criador sempre é o de conseguir o CAMPEÃO. Mais do que isso, uma geração de campeões. Para ser atingida esta meta, vários métodos nutricionais tem sido desenvolvidos, visando sempre o crescimento e formação saudável e equilibrada do potro atleta e de alta performance. O estabelecimento de uma base sólida para a futura vida atlética é o ponto inicial de todos os procedimentos existentes.
No entanto, antes de pensar no potro, temos de nos voltar para quem vai gerá-lo, o garanhão e reprodutoras. Aí se dá o início da NUTRIÇÃO do verdadeiro cavalo de competição, e não apenas ele por si só.

ALIMENTAÇÃO DO GARANHÃO
Seguem abaixo algumas sugestões de procedimentos nutricionais para garanhões que poderão contribuir com um resultado positivo durante a temporada de monta.
- Como padrão, a ração de um garanhão deverá conter teores de 12 a 14% de proteína bruta, 3200 Mcal/ Kg de energia digestível, máximo de 2,0% de Cálcio e mínimo de 0,6% de Fósforo.
- O consumo deverá ser na quantidade de 1,5 a 2% do peso corporal total do cavalo, e dividido o em 3 refeições diárias com intervalos de 8 horas.
- Os garanhões devem estar em bom estado nutricional e com boa reserva energética. O sobrepeso deverá ser evitado, pois o esforço na cobertura aumenta o desgaste energético e poderá originar lesões ortopédicas.
- Evitar mudanças na qualidade e quantidade da ração a ser ministrada. Poderão ser utilizados neste período, precursores de ácidos graxos poliinsaturados para aumentar em até 1,5 a concentração espermática, prática esta bastante difundida.
- Fornecer feno ou pastagem e água potável á vontade.
- Manter o garanhão a pasto é uma prática extremamente saudável, e permite o contato visual com os demais animais da propriedade.
- Realizar pesagem semanal para evitar oscilações de peso durante a estação, o que poderá afetar negativamente o desempenho para coberturas

ALIMENTAÇÃO DE ÉGUAS

Considera-se em nutrição de éguas três estágios diferentes na vida da reprodutora: (1) quando virgem e vazia, (2) prenha e (3) com potro ao pé (lactação).

1. Éguas vazias e virgens
-A égua vazia deverá estar nutricionalmente apta para a concepção, ou seja, com boas condições corporais e com pequena reserva natural para permitir um bom desenvolvimento inicial do feto e de seus anexos (placenta). Apesar de sua condição, os requerimentos nutricionais diários deverão ser atendidos, pois serão futuramente mais facilmente mantidos.
-Levar em consideração que os nutrientes que ela tenha reservado antes da concepção, serão utilizados para a base de desenvolvimento fetal.
- Uma situação de extrema importância é a da fase de transição das potrancas recém-chegadas de provas. Por terem de passar por processo de adaptação, tem um pouco mais de dificuldade de ganhar boa condição corporal. O autor é da opinião que deverão encerrar campanha atlética no mínimo 4 meses antes de gestarem.

2. Éguas prenhas
- Esta classe de éguas passa por dois diferentes períodos de necessidades nutricionais: início da gestação (até 8 meses) e final de gestação (dos 8 meses até o parto).
- Apesar de alguns autores afirmarem que o desenvolvimento fetal não requer nenhum valor adicional diferente daquele das éguas vazias, o autor é da opinião que devem sim ser manejados bimestralmente, com o objetivo de ser evitado um “flushing” alimentar no último trimestre.
- O último trimestre de gestação é particularmente importante por ocorrer uma aceleração no crescimento fetal, levando proporcionalmente a um aumento dos requerimentos nutricionais diários. Este aumento terá de ser fornecido mensalmente, acompanhando o ganho de peso da égua.
- Resumindo, o peso da égua deverá aumentar na gestação de 8 a 12% que equivalem ao peso final do feto e seus anexos, devendo ser este ganho de 2/3 no último trimestre. Isto significa em termos práticos que uma égua de 500 Kg deverá ganhar de 45 a 60 Kg durante toda a gestação, sendo que nos últimos 90 dias deverá ter um ganho diário de 350 a 450 g.


3. Éguas em lactação
- No início da gestação, a égua poderá estar amamentando. Isto significa que terá de se alimentar para suprir suas necessidades, do feto e do potro ao pé. Esta situação requer um aporte máximo de requerimentos nutricionais no primeiro trimestre de lactação. Já no segundo trimestre de lactação estes requerimentos poderão ser reduzidos.
- Esta redução alimentar não tem nenhum impacto negativo, na medida em que haverá naturalmente uma queda na produção e qualidade do leite e será dado início á preparação para o desmame, tanto da égua como do potro.
- É imperativo no processo de lactação não deixar a égua decair NUNCA na sua condição física. Isto acarreta em uma menor produção de leite e sua qualidade, tendo reflexo direto no potro. Além do mais, algumas raças tem uma dificuldade natural em ganhar bom estado corporal quando magra.
- Antes do desmame a energia fornecida deverá ser reduzida e ser mantida nesse nível até 2 semanas após.
Não recomendo a interrupção do fornecimento alimentar com o objetivo de “secar o leite”. Mesmo na presença de boa forragem o mínimo deverá ser dado para manter estabilizada a flora intestinal e alguns nutrientes essenciais.

EFEITOS NUTRICIONAIS SOBRE A REPRODUÇÃO E LACTAÇÃO
- A falta de proteína mesmo na presença normal de outros nutrientes leva a uma queda de produção, primeiramente por falha na ovulação.
- Éguas magras no momento da cobertura estão propensas a maiores taxas de morte embrionária.
- O “flushing” alimentar (aumento de energia) antes da cobertura é reprodutivamente benéfico para as éguas magras, não para aquelas no peso ideal ou acima dele.
- A égua que perde peso, independente de sua condição corporal, tem diminuída sua eficiência reprodutiva.
- A perda de peso pela égua prenha aparentemente não afeta o feto. No entanto leva a uma diminuição na produção de leite e principalmente colostro, podendo levar a uma falha na imunidade do potro neonato.
- Para se obter uma eficiência reprodutiva máxima, a égua deverá ter uma boa condição corporal, até estar um pouco acima do peso. Isto se aplica principalmente ás éguas em lactação.
- A obesidade parece não afetar DIRETAMENTE a eficiência reprodutiva, gestação ou potro no nascimento. No entanto haverá diminuição na produção de leite e queda na taxa de crescimento do potro.
- O estado corporal das éguas afeta diretamente a produção de leite. A produção de leite de uma égua bem alimentada e em condições físicas ideais é de 3 a 4 % o seu peso por dia nos dois primeiros meses, caindo gradativamente até 2 % ao quinto mês de lactação.
- Os nutrientes fornecidos através da alimentação não tem influência direta na qualidade do leite, mesmo quando em alta produção. O único nutriente que comprovadamente varia com a dieta é o Cálcio.


ALIMENTAÇÃO DE POTROS
Os objetivos de criar um potro podem ser os mais variados, mas com certeza é o de produzir um atleta sadio e bem sucedido em qualquer nível.
Estabelecer uma base sólida é essencial se quisermos atingir o seu pleno potencial. O esqueleto do potro começa a se desenvolver no início da gestação e é 95% funcionalmente maduro até ao final do seu primeiro ano de vida, momento em que cresceu cerca de 90% da sua altura adulta. Os nutrientes de boa qualidade fornecem os alicerces para apoiar este crescimento rápido e, portanto, escolher uma alimentação adequada é vital.
Muitos fatores influenciam o crescimento e desenvolvimento dos potros, mas é a alimentação que pode mais facilmente influenciar, e por isso devemos tentar conseguir o estágio mais perto possível do ótimo. Algumas das principais questões que podem ser assistidas para uma adequada nutrição incluem desenvolvimento ósseo, sanidade digestiva, status imune, comportamento e manejo.

CONSIDERAÇÕES GERAIS
- O objetivo prático da égua é ter um potro vivo, que, por sua vez, evolui para um adulto saudável. A nutrição da égua tem sido pensada como menos importante do que a do potro. No entanto, é cada vez mais importante o papel da nutrição através da mãe.
- Se o tempo não for um fator importante, então os potros podem crescer e amadurecer em uma taxa aceitável. Isto pode ser mais complicado se o objetivo é produzir, por exemplo, desmamados ou sobreanos visando leilões. Nestes casos, a meta não é o ótimo e sim o crescimento máximo, e o desenvolvimento com o menor número de problemas de saúde possível.
- Os principais problemas resultantes desta prática são as doenças ortopédicas (DOD) como a Osteocondrite Dissecante (OCD), de origem cartilaginosa, a Discondroplasia (DCP), cistos subcondrais e epifisites.
- Os fatores que também podem contribuir incluem pré-disposição genética, biomecânica, trauma, estresse mecânico através de exercício inadequado, obesidade, além do já citado crescimento rápido e nutrição inadequada ou desequilibrada. Diferentes combinações podem estar envolvidas em diferentes casos.

PADRÕES DE CRESCIMENTO
- Taxas de crescimento inadequado podem resultar em variações no desempenho atlético e na saúde do potro.
- As taxas de crescimento rápido por excesso de alimentação / ingestão energética, levam a um aumento da incidência de DOD.
- A rápida taxa de crescimento pode afetar de maturação óssea direta ou indiretamente devido a perturbações na oferta nutricional e equilíbrio hormonal ou sobrecarga mecânica.
- Assim, parece ser um benefício tentar manter o crescimento com curvas suaves sem mudanças bruscas na taxa de crescimento.
- O peso ao nascimento é de cerca de 7-13% do adulto e pode ser afetado por muitos fatores, tais como a idade da égua, época do ano, a duração da gestação, quantas gestações a égua teve, etc .
- Os potros tem no desmame cerca de 5 vezes o seu peso ao nascer, e aos 12 meses de idade atingem cerca de 60 a 70% do peso dos adultos , 90% da altura e 95% de desenvolvimento ósseo.
- A taxa de crescimento do potro em amamentação depende da produção de leite de égua durante o início da lactação e é afetada pela suplementação alimentar a partir do 3° mês de lactação.
- A taxa de crescimento dos desmamados será afetada pelo seu potencial genético, em particular, bem como pelo nível de estresse e nutrientes consumidos (proteína e energia).
- A taxa máxima de crescimento é obtida se os potros forem alimentados com uma dieta equilibrada, contendo níveis elevados de energia e proteínas de boa qualidade, embora a influência alimentar tornar-se menor com o passar do tempo.
- Potros crescendo a uma taxa rápida depositam maior quantidade de nutrientes no osso, músculo e, em especial, no tecido adiposo, e, portanto, precisam de mais minerais e aminoácidos, em particular Ca, P e lisina.


POTROS EM ALEITAMENTO
-Este é o período de maior taxa de crescimento rápido (aproximadamente 110 kg, ganho nos primeiros 3 meses). É crucial que o potro receba uma nutrição adequada durante todo este período.
- O leite é o único alimento significativo na primeira semana de vida e é normalmente a principal fonte de nutrientes até o pelo menos 2 meses de idade, e para muitos até 4-5 meses de idade.
- Potros frequentemente comem concentrado da mãe nas 2-3 semanas de vida. Podem comer cerca de 2,5-3,5% do seu peso corporal como alimentação (com 90% de matéria seca [MS]), que é dividida entre leite, pastagem ou feno e concentrado alimentar.
-A quantidade de concentrado na alimentação aumenta com a idade e depende da exigência de crescimento rápido.
- Estima-se que o percentual de gordura em um potro muda de cerca de 5% durante a primeira semana para cerca de 9% aos 2 meses de idade. Isto influencia a energia total necessária para ganho de peso durante este período que aumenta de 2.1Mcal energia líquida / kg de ganho de peso vivo em 4 dias de idade, para 2.6Mcal NE / kg de ganho de peso vivo em 83 dias e para 3.4Mcal NE / kg de ganho de peso vivo em 132 dias.

POTROS DESMAMADOS
- A idade de desmame parece não influenciar significativamente a altura e peso quando adulto, mas a qualidade da alimentação pode ter influência direta.
- Se potros não são acostumados a comer alimentos sólidos antes de serem desmamados, tende a se mostrar mais prolongado o ganho de peso e ocorre diminuição no ganho médio diário (GMD) pós-desmame, que muitas vezes pode ser seguida por uma indesejável compensação do crescimento.
- A época do ano pode fazer uma diferença de acordo com o valor nutritivo e a disponibilidade de pasto ou outras forragens.
- A menos que haja circunstâncias especiais em que o desmame precoce é necessário ou vantajoso, é melhor manter o potro com a égua, pelo menos até 5 meses de idade. O desmame precoce pode resultar em maiores taxas de crescimento inicial se níveis mais elevados de concentrado estão sendo fornecidos.
- Como é evidente, com desmame postergado, menos efeitos negativos teremos. O potro não só vai ter função digestiva mais desenvolvida, como também será mais independente. O stress de desmame pode ser considerável e, de forma a minimizá-lo, a alimentação e práticas de manejo precisam ser otimizadas.
- O tipo de dieta alimentar parece influenciar o comportamento em torno do desmame, com evidentes vantagens em fornecer gordura e alimentos ricos em fibras, em vez do tradicional amido e açúcar. O método de desmame utilizado também pode ter um efeito significativo sobre o grau de estresse no desmame experimentado pelo potro.

POTROS SOBREANO E DOIS ANOS
- O ganho de peso dos sobreanos é de cerca de 0,75-1,25 kg / dia dependendo da alimentação
- O consumo os sobreanos é de cerca de 2-3% o peso vivo (PV), mas pode ser muito variável. O máximo recomendado é de 60% de concentrado na dieta total.
- Se em pastagens de boa qualidade apenas um suplemento vitamínico e mineral é necessário. Caso contrário cerca de 1,2 a 1,7 kg/100 kg PV de alimentação complementar é necessária quando na presença de capim feno e / ou pastagens de má qualidade.
- Sobreanos alimentados para crescimento rápido durante as fases de aleitamento e desmame tendem a se tornar obesos, especialmente potrancas. Sobreanos que foram mal alimentados anteriormente, podem necessitar de ser alimentados para um crescimento rápido semelhante aos desmamados e de acordo com o PV, em vez de idade. MAS cuidados devem ser tomados com relação ao aumento, especialmente para o risco de DOD.
- Os machos tendem a crescer em um ano ligeiramente mais rápido do que as fêmeas. Freqüentemente precisam ser alimentados com rações adicionais suficientes para ter em conta as maiores ganhos extras de cerca de 0,2-0,3 kg / dia, bem como maior manutenção devido à maior quantidade de atividade voluntária quando mantidos em grupos.
- Os potros com mais de 16 meses tem consumo de cerca de 2-2,75% do PV. O montante máximo de concentrado é 50-60% do total da dieta, aproximadamente 1.0-1,35 kg/100 kg de peso corporal.
-Tal como acontece com os sobreanos as quantidades de alimentos para 2 anos deve depender da forma como eles estão atingindo a sua maturidade.