PLANEJAMENTO GENÉTICO
Atualmente, o maior investimento do criador do Quarto de Milha é em genética. Comparativamente, é maior até que investimentos zootécnicos e profissionais juntos. Por isso a importância de uma escolha bem feita de uma matriz e garanhão para incorporação ao plantel já formado ou em formação.
A criação do Quarto de Milha tem como objetivo para a obtenção de bons resultados nas pistas, tanto nas de velocidade como nas de trabalho, e, posteriormente, na reprodução, o PLANEJAMENTO GENÉTICO, que deve ser criteriosamente elaborado. É um procedimento dinâmico aprimorado a cada ano, principalmente na formação do plantel de reprodutoras do haras, visando seu aperfeiçoamento e elevação do nível médio da qualidade genética e física de suas matrizes.
Dois fatores principais devem ser abordados para um planejamento genético bem elaborado: o Genótipo e o Fenótipo. O Genótipo refere-se ao padrão genético do Quarto de Milha, baseado nas características que se encontram no seu pedigree através de sua árvore genealógica, como aptidão física e atlética, velocidade, resistência, temperamento, adaptabilidade e maneabilidade. O Fenótipo refere-se ao seu biótipo, incluindo o porte, o peso, os conjuntos físicos e aprumos, ou seja, sua aparência externa, inclusive sua pelagem.
Mas antes de tudo, o criador do Quarto de Milha precisa decidir se seus produtos se destinam à venda ou reserva, ou seja, se tem por objetivo uma criação comercial ou criação para sua propriedade, pois freqüentemente, o planejamento genético voltado para fins exclusivamente comerciais, não coincide, necessariamente, com o direcionado para a produção de uso próprio.
No planejamento genético para fins comerciais, predomina o cruzamento de matrizes que tiveram boas campanhas nas pistas e/ou tem alto grau de parentesco com tais animais. Quanto ao reprodutor, no que se refere ao planejamento genético para fins comerciais, o que se leva em consideração é o seu nome, ou seja, o intenso esquema de “marketing” explorando sua boa campanha nas pistas, seu parentesco próximo com excelentes cavalos, geralmente descendentes das linhagens mais usadas nos cruzamentos, mas que, muitas vezes, não se ajustam genética e fisicamente á reprodutora para a qual está sendo elaborado o cruzamento.
No planejamento genético visando a reserva do produto, a preocupação é obter o melhor ajuste possível do genótipo e fenótipo da matriz para a qual está sendo elaborado o cruzamento, com o reprodutor selecionado, sem levar em consideração os aspectos comerciais.
INFLUÊNCIA GENÉTICA
A influência genética é a capacidade que um cavalo tem de transmitir seus genes para sua progênie, e em que porcentagem essa genética se encontra no DNA das suas gerações. Quando nos referimos a “cruzamentos mágicos”, são cruzamentos que na sua maioria terão graus de influência genética semelhantes. No entanto, apesar de manterem um bom valor comercial, estão fadados a serem superados com o tempo. Um exemplo disso está na modalidade da corrida e três tambores, onde as tendências genéticas predominantes atuais requerem (dados estatísticos) menos sangue THREE BARS (abaixo de 10%) para ambas as modalidades, e mais DASH FOR CASH e FIRST DOWN DASH (acima de 20%) para a corrida e JET DECK (acima de 12%) e EASY JET (acima de 25%) para três tambores. Isto não significa que outras linhagens não sejam importantes, mas a sua ocorrência é em menor grau. É de salientar que esta técnica de planejamento genético é apenas um orientador e não regra.
Também o não cruzamento dos mesmos indivíduos, denominado de OUTCROSS, tem presença considerável na formação de grandes campeões, e tem estatisticamente lugar de destaque dentro do planejamento genético, pois implica na maior diversificação possível de características adquiridas geneticamente. O maior exemplo está na formação dos apêndices diretos, como DASH FOR CASH, TOLLTAC, entre outros.
Estabelecido o padrão de influência genética, o encaixe genético do fenótipo vem logo a seguir. Esta operação se caracterizado pela complementaridade, ou seja, o entrosamento, em harmonia, das características corporais externas (fenótipo) da matriz e do garanhão selecionado, evitando os defeitos físicos e sobrepondo as qualidades aparentes.
Existe, porém um fator negativo, denominado RECESSIVIDADE, que, apesar de todos os estudos e alinhamentos realizados para se obter geneticamente um bom cavalo atleta, o êxito não é alcançado. Isto significa que os genes que participaram do encaixe genético no momento da fecundação são os recessivos, ou seja, os de influência genética negativa. Por este motivo poderemos vir a ter um excelente cavalo e nunca mais observaremos as mesmas aptidões em seus irmãos, ou as veremos após 4 ou 5 gerações. Além do mais, por não ser ciência exata a genética é extremamente influenciada por fatores externos do meio ambiente onde os animais são criados. Fatores como alimentação, manejo, treinamento, entre outros poderão influenciar positiva ou negativamente o produto fruto de um bom planejamento genético.
REPRODUTORAS
A escolha das reprodutoras para integrarem o plantel de um haras deverá seguir critérios rigorosos de seleção, utilizando-se como referência seu pedigree, campanha, produção e tipo físico. Independente do tamanho e capacidade do haras, a qualidade de suas matrizes é de extrema importância. Esse plantel terá de ser sempre cultivado, para se manter uma influência genética abrangente e contemporânea.
Para isso, uma tabela tem sido por mim elaborada e utilizada com o intuito de orientar a escolha dos criadores, segundo critério de desempenho em provas:
CLASSE A
Produtoras de vencedores de torneios e/ou provas oficiais
Vencedoras de torneios e/ou provas oficiais
Finalistas de torneios e/ou provas oficiais
Recordistas
CLASSE B
Produtoras de vencedores de páreos especiais e/ou provas não oficiais
Vencedoras de páreos especiais e/ou provas não oficiais
Irmãs e filhas de vencedoras de torneios e/ou provas oficiais
Finalistas de torneios e/ou provas não oficiais
CLASSE C
Produtoras de colocados em torneios, páreos especiais e/ou provas oficiais
Colocados em torneios, páreos especiais e/ou provas oficiais
Irmãs e filhas de vencedores de páreos especiais e/ou provas não oficiais
Quanto ao pedigree, deverá ter o maior número de indivíduos vencedores possível, além é claro de boa carga genética paterna. O ideal seria ter no plantel várias matrizes filhas de variados garanhões comprovados. Outro tema a ser analisado é o biótipo, o qual é de extrema importância, e que, por vezes, razão única de escolha de uma matriz.
Como sabemos, e a história tem nos mostrado, somente estes critérios não nos bastam, mas nos auxiliam. Conhecemos inúmeros casos de éguas Classe C que se tornaram Classe A com apenas um produto. Esse é o intuito desta tabela. Favorecer através do planejamento genético sempre a melhoria constante do plantel e a elevação de classe, além de ser um orientador de produção para o criador.
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GARANHÃO
O reprodutor é a peça fundamental para o encaixe genético de um plantel. Geralmente é escolhido pelo seu desempenho nas provas em que atuou ou por sua alta carga genética e produção. No entanto, existem 3 (três) categorias de garanhões a cada nova temporada de monta:
a) Os que se encontram sobre regime de “shuttle”, ou seja, arrendamento, e na sua maioria vindos dos USA, que muito contribui com a qualidade genética de nosso plantel, pois além de serem selecionados rigorosamente por seus importadores, ainda passam por aprovação dos critérios da ABQM.
b) Os importados e sediados definitivamente no Brasil. Estes precisam ser mais criteriosamente avaliados quanto ao seu uso genético, pois permanecerão gerando produtos, e sua influência será maior ao longo dos anos, podendo esta ser positiva, mas também ter certa recessividade.
c) Os reprodutores nacionais, selecionados, pela brilhante atuação que tiveram em nossas provas e que tem a vantagem de estarem adaptados ao meio ambiente e com boa compatibilidade ás matrizes que irão servir.
Resumindo, o reprodutor selecionado, a cada temporada de monta, pelo planejamento genético, deve ter como missão primordial, a complementação do Genótipo e Fenótipo das matrizes, objetivando o mais adequado encaixe genético e físico, que deverá estar refletido nas características do produto planejado.
CONCLUSÃO
A atual criação do Quarto de Milha nacional está situada hoje entre as melhores e mais estruturadas do mundo. Apesar de ainda haver um longo caminho pela frente, ela vem resistindo ás intempéries do tempo, da obsolescência e do mercantilismo, que, na minha opinião, são os grandes inimigos desta atividade.
Concordo com a máxima de um famoso criador do século passado a respeito da criação do cavalo de competição: “Neste negócio, ou se faz as coisas direito, ou fica-se de fora.”
E fazer direito hoje em dia para uma geração de criadores implica aprofundar-se em pesquisa genética, ter melhor conhecimento de famílias maternas, conhecer as inúmeras características e opções fornecidas pelos pedigrees, estudo das performances atléticas, e, claro, poder sempre contar com a melhor equipe, desde os gerentes, veterinários e supervisores dos haras, até aos treinadores, jóqueis, cavaleiros e tratadores.
O importante é tentar estar na frente do tempo...