O período pós-parto é provavelmente a etapa onde ocorrem as mais marcadas e abruptas mudanças na vida do animal. Associadas ao nascimento, estas mudanças nada mais são que o processo de maturação dos órgãos, que precede e acompanha as adaptações fisiológicas requeridas para a sobrevivência. Além disso, este processo envolve a necessidade de uma sequência e integração de uma série de eventos fisiológicos essenciais ao potro neonato.
Este capítulo será tratado em três partes, onde na primeira abordaremos a fisiologia da transição do feto a neonato, na segunda os cuidados e procedimentos a serem tomados após o parto com o neonato e na terceira e última parte os principais problemas que afetam o potro recém-nascido.
TRANSIÇÃO DE FETO A NEONATO
Estas funções, que quando feto eram realizadas na maioria pela sua mãe, passam por um processo de adaptação que será agora descrito.
1) Alterações do sistema respiratório
- Ainda na condição de feto, ocorre a maturação das células pulmonares através de hormônios endógenos denominados corticoesteróides. Este processo tem início cerca de 40 dias antes do parto e permite a formação de uma substância denominada surfactante, que impede o colabamento pulmonar na primeira respiração após o parto.
- O início da respiração ocorre logo após o parto e através da contração da caixa torácica do potro na passagem pelo canal do parto, estímulos táteis e súbito resfriamento da pele, sendo as primeiras inspirações relativamente fortes com conseqüente expansão pulmonar e absorção do líquido pulmonar.
- Ainda nas primeiras horas pós-parto, o neonato é muito sensível a qualquer processo que cause hipoventilação, na medida em que esta leva a uma queda de saturação de oxigênio no sangue e conseqüentes lesões cerebrais.
2) Alterações do sistema cardiovascular
- Na circulação sanguínea fetal existem duas estruturas anatômicas de grande importância chamadas ducto arterioso e forâmen oval, que permitem a passagem do sangue do pulmão para a placenta, onde ocorrem as trocas gasosas.
- Imediatamente após o parto ocorre o fechamento destas estruturas, para favorecer a circulação geral no corpo do potro. O ducto arterioso fecha completamente de 3 a 6 dias e o forâmen oval nas primeiras horas de vida. Este fechamento é mediado por hormônios endógenos.
- Em seguida é realizada a integração circulação e respiração, onde, a um grosso modo, ocorre a regulação da freqüência cardíaca com a respiratória em uma taxa de 2 a 3 para 1.
3) Regulação da temperatura
- Tem início logo após o parto, enquanto o líquido que reveste a pelagem do neonato seca e evapora. Devido a geralmente o parto ocorrer em temperaturas abaixo das corporais, a termorregulação se dá através da produção de calor.
- As principais fontes para a termorregulação são o glicogênio muscular e hepático estocado durante a gestação, e que é liberado através dos tremores e atividade física. A segunda fonte são os carboidratos e gorduras presentes no colostro.
- O mecanismo termorregulador com origem cerebral, mais precisamente no hipotálamo, estará ativo logo no primeiro dia de vida.
4) Imunidade
- O potro ao nascimento é hipogamaglobinêmico, ou seja, nasce com quantidade de anticorpos (imunoglobulina - IgG) muito reduzida.
- A proteção é realizada através da ingestão de anticorpos presentes no colostro da mãe, que são absorvidos por células especiais no sistema digestivo até no máximo 36 horas após o parto, quando ocorrerá a transformação destas células. Por isso a importância de mamar o colostro o mais rapidamente possível.
- A função imune, mesmo nos potros saudáveis é menos efetiva do que nos adultos. No entanto a função das células de defesa é equivalente á dos adultos.
5) Metabolismo
- A água constitui de 70 a 75% do peso total do neonato. Apesar disso, não são protegidos de desidratação e são mais vulneráveis a esta devido á sua alta taxa metabólica e devido á sua função renal não ser tão versátil como nos adultos, não concentrando eficientemente a urina.
- A taxa metabólica é o dobro da dos adultos. A principal fonte de energia é o leite materno. O requerimento calórico é de 100 a 120 Kcal/Kg/dia o que equivale a 5 ou 6 litros de leite por dia. Quando doentes, o requerimento aumenta para 150 Kcal/Kg/dia, ou cerca de 12 litros de leite por dia.